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Pelo direito a desisitir

Pelo direito a desisitirA introdução da palavra e do conceito de resiliência no nosso léxico, criou uma espécie de aversão à desistência e de ostracização dos desistentes.

Não é só no Desporto.

É muito além do Desporto.

O apelo constante, contínuo e crescente à resiliência conduz-nos, muitas vezes, a situações humilhantes e ridículas.

“É preciso ser resiliente!”

“O tanas!”

Se eu quero desistir, se eu acho que o melhor é desistir, porquê sujeitar-me a lutar contra moinhos de vento, a entrar em guerras perdidas, em destruir a minha sanidade mental em prol da resiliência.

Em teoria, a resiliência é uma boa qualidade para um ser humano, mas valerá a pena ser resiliente em qualquer situação e a qualquer preço? Quanto vale uma “vitória de Pirro”?

Não desistir e insistir numa corrida, pode levar-nos ao hospital, ou a um sítio bem pior. Pode criar, agravar lesões, ou torná-las irreversíveis. Pode fazer com que nunca mais possamos correr.

É bonito, após uma prova, ter uma história de superação para contar. Aliás, a corrida é isso mesmo. Mas a que preço? Até que ponto? Qual o limite?

A minha resiliência já foi louvada muitas vezes. Agradeço, mas não quero.

Quero poder desistir, em Paz. 

Quero poder dizer, não dá, não vale a pena!

Quero parar quando dói, deixar fugir aquele negócio que só me consome, abdicar daquele projecto que só desgasta, deixar de insistir onde não há resultados, deixar de ser uma varejeira a atirar-me contra uma janela de vidro.

Quero que os coaches de vão de escada enfiem a resiliência no orifício mais resiliente que encontrarem.

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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