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Cão que ladra

Cão que ladraTenho medo de cães.

A história é longa, antiga e não vale a pena dissecá-la. Tenho medo de cães e agradeço que respeitem isso. Peço encarecidamente que respeitem o meu medo de cães.

Faço este apelo, porque a generalidade das pessoas que adora cães e convive facilmente com eles, independentemente do tamanho e raça do bicho, tem dificuldade em compreender que haja quem tenha medo.

Naquelas cabeças não entra, não é possível, que alguém tenha medo de cães. Conheço quem grite histérico ao ver uma aranha, facilmente espezinhável com a ponta do pé e logo a seguir abrace um rotweiller, como se fosse um peluche fofinho.

Por isso, por não compreenderem que haja quem morra de medo só de ouvir a palavra “cão”, passeiam-os sem trela, deixam os portões abertos, os cães à solta e, têm sempre na ponta da língua o célebre: “ele não faz mal, só quer brincar…” ou o “não mostre medo…”

Se fosse assim fácil, nós (eu sei que não estou sozinho nisto) não morreríamos de medo do animal.

Depois lemos nas notícias “criança atacada por cão”, “corredor atacado por cão…” e a culpa nunca é do animal. Sem dúvida! É o outro animal que o deixou à solta.

Pode não parecer, mas eu gosto de cães… só que tenho medo. Até há bem pouco tempo tivemos um cão cá em casa: a Princesa Leia Organa, uma dócil cadela beagle que me ajudou a controlar um pouco este pavor. Dócil, mas muito activa, chegou a treinar comigo. Sempre com trela.

Eu sabia que ela era meiga, que “só queria brincar”, mas nunca facilitei. Ia na rua, ao meu lado, de trela e quando tencionava ir na direcção de alguém eu puxava-a, porque isso é outra coisa que irrita: pessoas que passeiam os cães com trelas de “50 metros” e deixam-os ir para todo lado, “cumprimentar” toda a gente. Não… o conceito de trela, não é esse… 

Aqui há anos, num daqueles treinos da Porto Runners com dezenas de pessoas, um feliz proprietário de um pastor alemão decidiu soltar a trela no preciso momento em que o pelotão passava por eles a correr. Comentários?

De facto, para quem corre e, ao mesmo tempo, tem medo de cães, este é um dos maiores desafios. Ir a correr na rua, sempre com medo do que surgirá na próxima curva, do que pode vir a correr de um portão aberto, ou saltar sobre um muro. E, os recentes casos de corredores atacados por cães, alertam-nos para isso mesmo.

Já fiz desvios de quilómetros para não me cruzar com cães. Já cancelei treinos, por haver cães soltos na rua quando me preparava para sair. Na última “Freita” que fiz, estive um bom bocado parado por causa de cães pastores. Cheguei a andar para trás para procurar companhia.

Não me interpretem mal. Não tenho nada contra quem tem cães, os ama e os estima. Aliás, se hoje a Leia já não vive cá em casa, é porque não tínhamos tempo para a amar e estimar como ela merece. Vive agora com outra família e até tem um namorado. O que irrita, mas irrita mesmo, é a falta de responsabilidade cívica de quem não mantém os seus cães em segurança, de quem os passeia sem trela, de quem deixa portões abertos, de quem não veda devidamente os seus muros.

António Pinheiro

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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