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Falta de ar

Tinha eu os meus treze, catorze anos, quando acreditei que podia ser jogador de futebol. Contudo, chumbei nos famosos testes médicos. O médico do clube, já falecido, recusou assinar o meu papel devido ao facto de eu ter alergia aos ácaros (na altura, descrita aos meus pais pelo alergologista como “alergia ao pó da casa”), alergia essa que me provocava, entre outros sintomas, ataques de asma.

“Se ele cair no campo, a responsabilidade é minha”.

(lembro-me dele sempre que concluo uma ultra distância… não sei porquê…)

Nem uma declaração da médica de família me valeu. Durou pouco a minha carreira futebolística.

Passei anos sem praticar desporto, a não ser a tradicional futebolada ao fim de semana. Mais ao menos aos 20, as minhas crises voltaram e, desde essa altura, andei sempre com a famosa bomba.

Usava-a poucas vezes, normalmente, à noite.

Quando comecei a correr e a fazer exercício físico de forma regular, o uso da bomba e de outra medicação começou a diminuir. Cheguei a ter três bombas em casa, fechadas na caixa, fora de prazo, dado que nunca tinha sentido necessidade de as usar. Então, deixei de a comprar. Uma vez por outra, lá ficava um pouco mais aflito, mas sempre controlei as minhas crises de “pieira” e nunca tive problemas a correr.

Semana passada, sei lá eu porquê, voltei a ter um daqueles episódios de asma que me fizeram desejar ter uma bomba à mão. Estava a poucos dias antes do “Sem Limites Trail” e, pela primeira vez em 8 anos de corrida, tive medo. Tive medo de a prova começar e eu ter que desistir ao fim de 500 metros. Tive medo de ficar parado algures no meio do monte sem ajuda.

É verdade que quando saímos para correr, nunca sabemos se chegamos ao fim, mesmo nas provas mais inofensivas. Mas naquela manhã eu estava nervoso, até porque tinha tossido bastante durante a noite.

Mas, aos poucos, o medo deu lugar ao prazer único da corrida e do trail. Senti-me bem durante todo o trajecto e acabei os últimos quilómetros com a sensação de ter vencido algo, não sei bem o quê, mas venci!

Antes da meta ainda parei para um beijo na Teresa e no Eduardo que gritava “Papá! Tum-tum-tum! Papá! Tum-tum-tum!”

Ouvi o speaker dizer “Vem aí mais um SiM Summit! É o que chega mais feliz ao fim, não sei porquê, mas ele é o mais feliz deles todos!”

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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