...

A minha é mais dura que a tua

Esta poderia ser uma frase que os organizadores de provas de trail poderiam trocar entre si. Se a quantidade de provas de trail cresceram exponencialmente, não é menos verdade que a maioria delas insere nos seus percursos verdadeiros calvários para todos aqueles que se predispõem a tais aventuras.

E parece que é isso que o corredor atual gosta. Quanto mais dura é a prova, quanto maior o desnível, quanto mais lama e quanto mais escaladas, mais atletas se inscrevem.

Mas isto será trail, provas de aventura ou uma moda onde todos querem alinhar? Parece que quem não alinha será considerado fraco e sem coragem.

Para além da extrema dureza de algumas provas que se realizam em Portugal, há também o factor perigo ao qual se deveria de dar mais importância. Felizmente ainda não houve nenhuma desgraça mas pelo andar da coisa, qualquer dia vamos ouvir os orgãos de comunicação social a falar do trail pelas piores razões.

Seria altura das organizações das provas se concentrarem naquilo que o atleta realmente gosta e do que é realmente importante: boas paisagens por locais onde dificilmente se iria noutras ocasiões, fartos convívios, tertúlias e conferências associadas, consciencialização ambiental, entre outras iniciativas que trariam mais valias à modalidade.

Quanto aos atletas, escolham provas seguras e que vos ofereça confiança organizativa. Não vão pela dureza da prova mas por toda a sua envolvência. Juntem grupos de amigos, participem em grupo e  sem stress quanto ao tempo final.

Façam da corrida na montanha um prazer e não uma competição aguerrida. Não se sintam inferiorizados se o seu vizinho ou colega de treino chegou 2 horas antes de vocês. Dificilmente ele terá tirado mais prazer da corrida do que vocês.

Corram em grupo, desfrutem a montanha, conheçam novos corredores, corram a um ritmo que vos possibilite conversar e irão ver que a dureza das provas não lhes vai fazer falta para que a corrida os complete e lhes dê prazer.

Boas corridas.

Artigos Relacionados

Vitor Dias
Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 65 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt

6 COMENTÁRIOS

  1. não tenho exactamente a mesma opinião, mas anda lá muito perto. Ou seja, concordo que não há necessidade de se transformar uma prova de trail numa de aventura. Aliás, acho que já há trail’s com mais aventura que as ditas provas. Penso até, que se deveria adicionar ao material obrigatório um capacete de protecção, cotoveleiras e joelheiras…

    Todavia, quem manda nas provas são os atletas e a lei de mercado, basta que haja mais procura que oferta… e o valor da inscrição sobe e, se a maioria pede aumento do grau de dificuldade a organização não olha a meios… recordo que, no ano passado, fiz o mini Trail de Sesimbra e ouvi alguns atletas dizerem que aquele percurso era para meninos… Claro que este ano o grau de dificuldade aumentou…

    Por mim, há provas que não vou repetir. Não tanto pelo grau de dureza mas sobretudo pelo grau de perigosidade (nalguns casos gratuita) e/ou falta de segurança ou os respectivos meios de socorro.

    A minha opinião difere um pouco quando se apela à não competitividade. Pessoalmente gosto de competir contra o relógio, mesmo em trail’s. e se puder acabar em 100º não gosto de ficar em 150º. Se puder acabar em 2h não gosto de acabar em 2h30! Gostos não se discutem… cada um terá e sentirá o prazer à sua maneira!

    Porém, reconheço que, do ponto de vista turístico e de beleza da natureza, sairei a perder, pois já não é a primeira vez que alguém me refere um ponto lindíssimo e eu fico: ah pois e tal, sim, sim… mas cá para mim digo não me lembro de ter visto nada disso…

    Resumindo e concluindo, adoro trail duro qb, mas de preferência sem extrema dificuldade, sem altos graus de perigosidade e que seja mais “corrível” do que caminhada…

    Um Abraço!

    Orlando Duarte

  2. Viva! A minha experiência em corridas de trilhos resume-se a um mini trail e um trail longo. Ambos foram difíceis pelo seu traçado mas acho que a segurança deve vir primeiro que a dureza, que está muito ligada à dificuldade da subida ou descida. Quando um corredor está em muito esforço pode não discernir o melhor caminho e ter um acidente. Aí, é melhor é não pensar em tempos mas chegar bem. Penso como o Orlando Duarte, tento fazer o melhor para ter a melhor classificação. No entanto, concordo com o Vitor Dias quando diz que ainda vamos ouvir falar do Trail pelas piores razões. Eu gosto de um trail que seja mais “corrivel” porque o que adoro é o contacto com a natureza.

    Melhores cumprimentos.

  3. Caros Orlando e Vitor
    Ao fim e ao cabo as nossas opiniões não divergem muito.
    Eu também gosto de correr mais rápido de quando em vez. Depende da prova. Quando escrevo, quase que o faço sempre para quem corre há relativamente pouco tempo. Quando começamos, correr em grupo é sempre mais agradável. Quanto à dureza, não é ela que me atrai, também gosto de terrenos “corriveis”.
    Boas corridas.

  4. Parece-me que o artigo é redutor e minimiza a modalidade as umas corridinhas na montanha a um ritmo que dê para ir numa amena cavaqueira num grupo de amigos, mas sem andar… Género passeios de fim-de-semana na serra mas a fazer jogging, retirando a parte competitiva. Mas a realidade é que a componente competitiva é muito importante na modalidade (nem que seja competirmos connosco próprios e conseguirmos o melhor que pudermos). Aconselho um estudo sobre a origem da modalidade para se perceber isso e outras coisas. Poderá compreender-se melhor que apesar do nome “Trail Running” ou “corridas em trilhos” (trilhos no sentido de natureza), a integração de partes caminhadas, ou semi-escaladas, por todo o tipo de ambientes naturais, inclusivé leitos de rios, faz precisamente parte do atrativo. Também deve estar associado um tempo de atividade longo, o que implica uma distância normalmente elevada (horizontal, vertical ou uma mistura das duas). A dureza desportiva faz, por isso, parte da genética da modalidade. E ainda que disfrutar da natureza seja óptimo em grupo, esta modalidade enquadra-se perfeitamente num tipo de modalidade em que a nossa superação individual está primeiro que a confraternização social. Não quer dizer que não se corra em grupo e não se troquem impressões de vez em quando, mas o verdadeiro espírito duma competição desta modalidade exige um esforço de superação em que cada atleta tem o seu próprio ritmo e interage com a natureza duma forma mais individual ainda que corra rodeado de companheiros. Para uma coisa mais social, menos exigente, existem eventos de “trail running” não competitivos e/ou caminhadas.
    Concordo no entanto com o artigo no sentido em que as organizações, em geral, têm muito a melhorar, sobretudo no sentido de garantir maior segurança e rapidez de apoio aos praticantes em caso de acidente e maior rigor na indicação prévia dos trilhos e locais de abastecimento.
    De qualquer forma, os participantes têm que ter plena consciência da dureza e do risco das provas onde se inscrevem, sendo esse o primeiro passo no sentido de zelar pela sua própria segurança.
    Há com certeza espaço para provas com graus muito diversos de dureza, mas julgo ser imprudente conceber provas arriscadas. A dureza desportiva não precisa nem deve estar diretamente associada ao risco.

  5. Escrevo enquanto praticante e não enquanto organizador e vou ser sintético repetindo o que já muita gente me ouviu dizer: se uma prova tem trilhos em que o concorrente por queda ou indisposição/desmaio corre o risco de deslizar/cair desamparado por um precipício ou para um leito de rio caudaloso é criminoso que a Organização não informe adequada e explicitamente isso na informação técnica referente à prova. Um pouco dura a palavra “criminoso” mas é para enfatizar. Quanto ao resto tudo é possível e desejável. Adoro os free trails em grupo – organizamos imensos aqui em Portalegre – mas também gosto, estando bem, de tentar chegar à frente dos meus vizinhos todos. 😉 Divirtam-se … concientemente!

  6. Caro Vitor,
    Do meu ponto de vista o texto está corretíssimo. Corro essencialmente em estrada, mas já fiz 3 ou 4 trails e continuo sem perceber bem porque é que vou (claro que sei. A montanha é muito bonita, e sabe bem sair do asfalto de vez em quando). Contudo, como referiste, acho que as provas são demasiado duras para o meu gosto. Será que não é possível fazer umas provas em montanha mas sem tanta escalada e sem descidas tão técnicas?! Confesso que me aborrece ir para lá e saber que ao fim de meia dúzia de kms já estou desfeito… Já corri 4 maratonas e em nenhuma delas cheguei tão “morto” como em qualquer um dos trails que fiz (e o mais longo só tinha 25 kms…).
    Já sei que gostos não se discutem, mas o que queria mesmo saber é se existe algum trail (a norte) mais suavezinho que dê para correr na maior parte do tempo.

Comentários estão fechados.

NÓS NAS REDES SOCIAIS

115,049FãsCurtir
8,418SeguidoresSeguir
1,473SeguidoresSeguir

ARTIGOS MAIS RECENTES